Mesmo que não tenha sido sua intenção. Piaget acabou
abrindo caminho para os mais avançados trabalhos pedagógicos dos nossos dias. A
psicolingüística de Emília Ferreiro é fruto da epistemologia genética do
pesquisador suíço. Da idéia dos estágios saiu o construtivismo que mudou toda a
organização e o planejamento da escola moderna.
O construtivismo é uma teoria científica desenvolvida pela
psicóloga argentina, aluna e colaboradora de Piaget, Emília Ferreiro. Essa
teoria, tida por muitos especialistas como linha pedagógica, propõe que o aluno
participe ativamente do próprio aprendizado, mediante a experimentação, a
pesquisa em grupo, o estímulo à dúvida e o desenvolvimento do raciocínio,
dentre outros procedimentos. Rejeita a apresentação de conhecimentos prontos ao
estudante e utiliza de modo inovador técnicas tradicionais como, por exemplo, a memorização.
O termo construtivismo indica que uma pessoa aprende melhor
quando toma parte de forma direta na “construção do conhecimento” que adquire.
O construtivismo enfatiza a importância do erro não como um tropeço, mas como
um trampolim no caminho da aprendizagem.
Ferreiro aplicou a teoria mais geral de Piaget na
investigação dos processos de aprendizagem da leitura e escrita entre crianças
na faixa de quatro a seis anos. Constatou que a criança aprende segundo sua
própria lógica e segue essa lógica até mesmo quando ela se choca com a lógica do método da alfabetização. Para a
pesquisadora argentina, a criança constrói seu próprio processo de
alfabetização vivendo conflitos cognitivos para chegar a dominar os rudimentos
da leitura e escrita.
Em resumo, as crianças não aprendem do jeito que são
ensinadas. A teoria de Ferreiro abriu aos educadores a base científica para a
formulação de novas propostas pedagógicas de alfabetização sob medida para a
lógica infantil. Sua obra pode ser considerada como continuadora dos estudos de
Piaget na área de construção da linguagem escrita, tema praticamente por ele
não pesquisado.
Para FERREIRO (1997, p. 168), analisando a importância das
intervenções do educador no processo de alfabetização coloca que
...o drama de muitíssimas crianças é que, não
tendo contato com interpretantes nos seus primeiros anos, ao chegarem à escola
tampouco os encontram. A professora não age como intérprete nem como
interpretante, mas como decodificadora. As famílias silábicas e as soletrações
reduzem o mistério a um treinamento, e a palavra dissolve-se em componentes que
destroem o signo lingüístico. Onde está a magia, o mistério, o desafio a ser superado,
o objeto de conhecimento a ser alcançado?
A pesquisadora
detectou três estágios no processo de aquisição da linguagem escrita. No
primeiro estágio ou pré-silábico, as crianças não vêem a palavra e o objeto
como duas realidades distintas; no segundo estágio, escrevem letras
correspondendo a sílabas e no último estágio, adquirem a capacidade de empregar
a representação alfabética da escrita.
Um preceito de Ferreiro traduz muito bem esta questão ao
afirmar que a criança não está na escola para aprender a ler e escrever, mas
para ler e escrever por ela mesma. Portanto, é preciso entender que a criança
não se alfabetiza sozinha.
Segundo Ferreiro, “um dos maiores danos que a escola pode
fazer a uma criança é levá-la a perder a confiança em sua própria capacidade de
pensar”.
Para a autora supracitada o aprendizado da leitura e
escrita é um processo evolutivo. Portanto, devemos considerar a escrita
espontânea, e isto se sobrepõe aos limites das junções de letras, sílabas e
palavras. Nesse ponto, a pesquisadora faz contundentes críticas às cartilhas e
a recomendação de que devem ser reavaliadas porque impedem verificar se a
criança evolui. Portanto, para FERREIRO, apud LAGÔA (1990, nº 41):
o processo construtivista do aprendizado,
que consiste, antes de tudo, em respeitar o modo como a criança começa a
conceber o universo da língua escrita. Neste tipo de abordagem, ela pode
cometer erros de ortografia, mas não sufoca a língua que pode produzir. Ao
escrever a palavra casa com apenas dois ás, a criança está construindo os
primeiros andaimes de um edifício que a leva a dominar a escrita.
O construtivismo não é o redentor dos problemas
educacionais do nosso país, mas, com certeza, é uma teoria ou linha pedagógica
norteadora de ações inovadoras que melhor se adaptam ao nosso tempo.
REFERÊNCIAS
FERREIRO, Emília. Com Todas as Letras. Trad. de
Maria Zilda Cunha Lopes. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 1996.
LAGÔA, Ana. Afinal, o que é alfabetizar? Nova
Escola. Nº 41, 1990.
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