sexta-feira, 13 de março de 2015

A psicolingüística de Emília Ferreiro


Mesmo que não tenha sido sua intenção. Piaget acabou abrindo caminho para os mais avançados trabalhos pedagógicos dos nossos dias. A psicolingüística de Emília Ferreiro é fruto da epistemologia genética do pesquisador suíço. Da idéia dos estágios saiu o construtivismo que mudou toda a organização e o planejamento da escola moderna.
O construtivismo é uma teoria científica desenvolvida pela psicóloga argentina, aluna e colaboradora de Piaget, Emília Ferreiro. Essa teoria, tida por muitos especialistas como linha pedagógica, propõe que o aluno participe ativamente do próprio aprendizado, mediante a experimentação, a pesquisa em grupo, o estímulo à dúvida e o desenvolvimento do raciocínio, dentre outros procedimentos. Rejeita a apresentação de conhecimentos prontos ao estudante e utiliza de modo inovador técnicas tradicionais como, por  exemplo, a memorização. 

O termo construtivismo indica que uma pessoa aprende melhor quando toma parte de forma direta na “construção do conhecimento” que adquire. O construtivismo enfatiza a importância do erro não como um tropeço, mas como um trampolim no caminho da aprendizagem.
Ferreiro aplicou a teoria mais geral de Piaget na investigação dos processos de aprendizagem da leitura e escrita entre crianças na faixa de quatro a seis anos. Constatou que a criança aprende segundo sua própria lógica e segue essa lógica até mesmo quando ela se choca com  a lógica do método da alfabetização. Para a pesquisadora argentina, a criança constrói seu próprio processo de alfabetização vivendo conflitos cognitivos para chegar a dominar os rudimentos da leitura e escrita.
Em resumo, as crianças não aprendem do jeito que são ensinadas. A teoria de Ferreiro abriu aos educadores a base científica para a formulação de novas propostas pedagógicas de alfabetização sob medida para a lógica infantil. Sua obra pode ser considerada como continuadora dos estudos de Piaget na área de construção da linguagem escrita, tema praticamente por ele não pesquisado.


Para FERREIRO (1997, p. 168), analisando a importância das intervenções do educador no processo de alfabetização coloca que

...o drama de muitíssimas crianças é que, não tendo contato com interpretantes nos seus primeiros anos, ao chegarem à escola tampouco os encontram. A professora não age como intérprete nem como interpretante, mas como decodificadora. As famílias silábicas e as soletrações reduzem o mistério a um treinamento, e a palavra dissolve-se em componentes que destroem o signo lingüístico. Onde está a magia, o mistério, o desafio a ser superado, o objeto de conhecimento a ser alcançado?


 A pesquisadora detectou três estágios no processo de aquisição da linguagem escrita. No primeiro estágio ou pré-silábico, as crianças não vêem a palavra e o objeto como duas realidades distintas; no segundo estágio, escrevem letras correspondendo a sílabas e no último estágio, adquirem a capacidade de empregar a representação alfabética da escrita.
Um preceito de Ferreiro traduz muito bem esta questão ao afirmar que a criança não está na escola para aprender a ler e escrever, mas para ler e escrever por ela mesma. Portanto, é preciso entender que a criança não se alfabetiza sozinha.
Segundo Ferreiro, “um dos maiores danos que a escola pode fazer a uma criança é levá-la a perder a confiança em sua própria capacidade de pensar”.
Para a autora supracitada o aprendizado da leitura e escrita é um processo evolutivo. Portanto, devemos considerar a escrita espontânea, e isto se sobrepõe aos limites das junções de letras, sílabas e palavras. Nesse ponto, a pesquisadora faz contundentes críticas às cartilhas e a recomendação de que devem ser reavaliadas porque impedem verificar se a criança evolui. Portanto, para FERREIRO, apud  LAGÔA (1990, nº 41):

o processo construtivista do aprendizado, que consiste, antes de tudo, em respeitar o modo como a criança começa a conceber o universo da língua escrita. Neste tipo de abordagem, ela pode cometer erros de ortografia, mas não sufoca a língua que pode produzir. Ao escrever a palavra casa com apenas dois ás, a criança está construindo os primeiros andaimes de um edifício que a leva a dominar a escrita.


O construtivismo não é o redentor dos problemas educacionais do nosso país, mas, com certeza, é uma teoria ou linha pedagógica norteadora de ações inovadoras que melhor se adaptam ao nosso tempo.

REFERÊNCIAS

FERREIRO, Emília. Com Todas as Letras. Trad. de Maria Zilda Cunha Lopes. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 1996.
LAGÔA, Ana. Afinal, o que é alfabetizar? Nova Escola. Nº 41, 1990.

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