A morte violenta do rio Doce representa a saga da violência humana
contra todas as formas de vida existência no planeta é uma sintoma
da crise da civilização humana sobre os ecossistemas de nosso
planeta. É o modelo de produção que está o próprio ser humano e
os processos ecológicos essenciais como as nascentes que vão formar
os rios e lagos.
Nesse
sentido, o paradigma atual de produção e consumo baseado nas
energias fósseis está passando por diversos questionamentos ou
dilemas, dois deles são: continuar buscando o aperfeiçoamento
racional do homem, padronizando, engessando-o segundo interesses de
ordem racionalista e econômica para a produtividade, sem considerar
os limites da natureza e seus processos ecológicos; ou seguir por
novos meios de produção que considerem as condições e
potencialidades ecológicas de cada região? (LEFT, 2001).
Nesse
sentido, o ambiente natural está sofrendo uma exploração
predatória que ameaça a estabilidade dos seus sistemas de
sustentação através da degradação ambiental (quando excedemos a
taxa de reposição natural de um recurso, as provisões começam a
diminuir) através da exaustão de recursos naturais renováveis e
não renováveis: desfiguração do solo, perda de florestas,
poluição da água e do ar, perda de biodiversidade com redução
das formas de vida selvagem, em virtude da eliminação de habitats e
espécies, etc. (MILLER, 2008).
Capra
(1996) afirma que “a
crise atual não é apenas uma crise de indivíduos, governos ou
instituições sociais; é uma transição de dimensões
planetárias”. Já
para Left (2001, p. 15), “a crise ambiental veio questionar a
racionalidade e os paradigmas teóricos que impulsionaram e
legitimaram o crescimento econômico, negando a natureza”.
Dessa
forma, de acordo com o autor, uma nova visão de mundo – o da
sustentabilidade ecológica – aparece como norte para a
reconstrução desse modelo econômico sine
qua non
para a sobrevivência da espécie humana e suporte para um
desenvolvimento duradouro, questionando as próprias bases da
produção e do consumo.
E
o rio Doce pode ser a lição da humanidade pela forma como o
rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, afetou ribeirinhas,
pequenos agricultores, animais silvestres, matando pessoas, sufocando
o leito do rio, cimentando suas matas ciliares, destruindo o
estuário. Todo os ecossistemas ao longo di rio Doce até o estuário
em que desemboca o rio no Oceano Atlântico, ficaram gravemente
feridos pela ação desastrosa e gananciosa do ser humano.
Os
rejeitos da Samarco (mineradora responsável pelo maior desastre
ambiental do país, talvez do mundo) destruíram tudo por onde
passou, os habitats e seus habitantes como capivaras, arrastando e
matando os animais e toda a vida aquática ao longo ao rio Doce até
o mar. Lugares que eram habitados por aves, repteis, mamíferos,
peixes, micro-organismos, foram irremediavelmente destruídos.
O
desastre também afetou a sobrevivência dos povos que dependiam do
rio porque destruiu povoados dos municípios de Mariana, Barra Longa,
matando 12 pessoas, deixando muitos desaparecidos. Pessoas perderam
suas casas, seus pequenos patrimônios e o rio que lhes davam água
para beber e de onde tiravam o sustento. Percebe-se dessa visão, que
o desastre ambiental, de proporções imensuráveis, revela o
desastre social dos povos que viviam nos povoados ao longo de mais
10km do rio. Pessoas, que escaparam do lamaçal, foram lançadas na
indigência humana porque o rio era a própria existência desse
povo.
O
desastre ambiental de Mariana também revela questões assustadoras
sobre a justiça brasileira que protege os grandes poluidores e
assassinos da vida nesse país. Ninguém até agora foi processado.
Não se sabe quem são os donos da Samarco. A Samarco revela uma
empresa sem donos. Não se houve entrevista, indiciamento dos
assassinos de Marina, dos assassinos do rio Doce. O rio Doce é a
prova que no Brasil a justiça é forte para fracos, mas fraca para
os fortes. E que aos ricos temos os favores das leis, aos pobres,
temos os rigores das leis. E isso é tão forte quando se sabe que um
senhor foi preso porque tirou uma lasca de uma árvore para fazer um
chá porque alguém da família estava doente. No entanto, nenhum dos
assassinos do rio Doce foi preso.
O
desastre do rio Doce é como se tivesse jogado uma bomba atômica,
mas ao invés de jogar poeira na atmosfera, a lama cobriu pessoas,
animais, matas ciliares, processos ecológicos, rios, centenas de
suas nascentes, ilhas no meio do rio. E sua recuperação será
lenta, penosa, demasiadamente penosa para seres humanos que ainda
vivem na região, mas principalmente para a sucessão ecológica que
poderá iniciar novo ciclo de vida, se ainda restar microrganismos,
matéria orgânica, mas o rio nunca será o que foi um dia. A vida
continua comprometida e ainda continua comprometida pela lama tóxica
da Samarco.
Nessa
linha de raciocínio, as análises da água revelaram grande
quantidade de metais pesados, como grande quantidade de mercúrio. E
a situação ficou dramática para o abastecimento humano em quinze
municípios ao longo do rio Doce e muitos pequenos agricultores
perderam os seus animais que consumiram água contaminada. E mais
grave, a fauna ao longo do rio foi varrida dos ecossistemas. A flora
que circunda os rios foi soterrada e quando a lama chegou ao mar
sufocou o estuário.
Nesse
sentido, a interação do homem com o ambiente em que vive foi se
tornando, desde seus primórdios, cada vez mais predatória, na
medida em que o seu nível de crescimento foi aumentando.
Assim,
é importante observar que a problemática ambiental atual requer
respostas para a prevenção e conservação do meio ambiente,
através de ações e políticas públicas, sobretudo, pela prática
e procedimentos de gestão ambiental e que estejam coerentes com o
disposto no o artigo 225 da Constituição Federal, de 1988.
A
destruição do rio Doce é um grito dos povos ribeirinhos, da
capivara, das aves aquáticas, da vida soterrada pela lama por
justiça social e também ambiental. E que um novo paradigma de
produtividade.
Deste
modo, com a certeza de que os recursos naturais são finitos e devem
ser preservados, emergiu um novo paradigma: o do desenvolvimento
sustentável, o qual, de acordo com Cunha e Guerra, (2009, p. 55) “é
um conjunto de crenças, ideias, valores num processo de contestação
à até então dominante percepção do planeta como uma fronteira
aberta de recursos naturais ilimitados”.
Esse
novo paradigma busca uma exploração racional dos recursos naturais,
visando a sustentabilidade no sentido colocado por Ignacy Sachs (apud
CAMARGO, 2008, p. 66), para quem “desenvolvimento sustentável é
aquele no qual as necessidades do presente são atendidas sem
prejuízo de comprometimento de recursos naturais para o atendimento
das necessidades das gerações futuras”.
Para
a referida autora, o objetivo é caminhar em direção ao
desenvolvimento que integre interesses sociais e econômicos com as
possibilidades e os limites de suporte da natureza. Essa nova visão
integrou basicamente seis aspectos que deveriam guiar os caminhos do
desenvolvimento: a satisfação das necessidades básicas; a
solidariedade com as gerações futuras; a participação da
população envolvida; a preservação dos recursos naturais e do
meio ambiente em geral; a elaboração de um sistema social
garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas e
programas de educação.
Desta
forma, entende Miller (2008) que o desenvolvimento sustentável tanto
é para o homem como para a vida em geral. Para o referido autor, os
recursos devem ser explorados, de sorte que a vida possa usufruir de
forma responsável e não predatória, forjando sociedades
sustentáveis.
De fato, na visão de Capra (1996), há
soluções para os problemas de nosso tempo. Soluções até simples,
mas para isso é preciso mudar radicalmente nossos valores. Desta
forma, é mister formar na sociedade brasileira uma nova consciência
de preservação e de desenvolvimento sustentável, bases filosóficas
para nova relação com o meio ambiente. Rio Doce, como um dos
maiores desastre ambiental e social, deve ser a lição para toda a
humanidade de que a vida deve está em primeiro lugar.
Para Camargo (2008, p.14), “o desenvolvimento
sustentável revelou-se uma nova maneira de perceber as soluções
para os problemas globais, que não se reduzem apenas à degradação
ambiental, mas incorporam dimensões sociais, políticas e sociais”.
E é claro, como dimensão política, cabe às intuições públicas
tornar a gestão pública mais eficiente com serviços públicos de
qualidades e menor produção de resíduos sólidos.
E assim, uma nova legislação para o cuidado
das águas e seus corpos hídricos deve emergir com a seguinte
orientação:
Mãe
Terra
Casa Terra Subchefia para Assuntos da Terra |
LEI
Nº 27
DE JANEIRO DE 2017
– Lei das Corpos Hídricos
|
Institui a
Política da Mãe Terra e suas águas.
|
O
PRESIDENTE Da Mãe Terra Faço saber que a
Fauna e Flora decretam e eu sanciono a seguinte Lei:
TÍTULO I
DA POLÍTICA DA MÃE TERRA DA ÁGUA VIDA
CAPÍTULO I
DOS FUNDAMENTOS dos CORPOS HÍDRICOS
Art. 1º A Política da Mãe Terra para os Corpos Hídricos baseia-se
nos seguintes fundamentos:
I - a água é um bem da biosfera e de todas as formas de vida;
II – a água é corpo hídrico essencial à vida.
III - o uso prioritário dos corpos hídricos é a manutenção da
vida.
IV – todos são responsáveis por gerir os corpos hídricos
V – os rios são nossos irmãos, que carregam em suas correntezas a
vida, por isso devem ser amados e cuidados por toda a humanidade.
VI - a gestão dos corpos hídricos é de responsabilidade da
humanidade. Cada comunidade deve cuidar do seu corpo hídrico.
VII – cada á cada comunidade humana manter a pureza dos corpos
hídricos
CAPÍTULO II
DOS OBJETIVOS
I - assegurar à toda biosfera o cuidado dos corpos hídricos, em
padrões de qualidade fornecidos pela natureza;
II – a conservação dos corpos hídricos através de ações
locais e planetárias que visem desenvolvimento da humanidade á
manutenção dos processos essenciais da biosfera
III - a prevenção e a defesa dos corpos hídricos contra qualquer
natureza de poluição;
CAPÍTULO III
DAS DIRETRIZES GERAIS DE AÇÃO
Art. 3º Constituem diretrizes gerais de ação para implementação
da Política da Mãe para a conservação dos Corpos Hídricos;
II - a adequação da gestão dos corpos hídricos à biosfera,
integrando uso sustentável nos aspectos das atividades humanas,
sociais e culturais das diversas regiões da Mãe Terra;
III - a integração da gestão dos Corpos Hídricos com a manutenção
de todas as formas de vida;
IV - a articulação do planejamento dos corpos hídricos com as
necessidades dos humanos, da flora e fauna;
V - a integração da gestão dos corpos hídricos com as formas
microscópicas que dão vida e sustentação ao solo;
Capítulo Final
I – a água é um bem da vida e de todas as formas de vida
existentes na Mãe Terra. Cada gota d'água deve ser usada com
reverência;
II – os humanos devem orar de joelhos para a Mãe Terra – que
mantenha a chuva em harmonia para alimentar os corpos hídricos que
banham todas as cidades, todas as florestas e que mata a sede de toda
a biota de uma região;
III – que não respeitar os Corpos hídricos passará um dia
contemplando as correntezas de um rio e barulho das águas batendo
nos rochedos.
IV – quem desperdiçar água viverá por dia em local com apenas um
copo de água.
V – Corpo Humano e Corpos Hídricos estão unidos pela proteção à
vida de todas as formas de vida existentes na Mãe Terra.
REFERÊNCIAS.
CAMARGO,
Ana Luiza de Brasil. Desenvolvimento
Sustentável. Dimensões e Desafios.
Campinas - SP: Papirus, 2006.
CAPRA,
Fritjof. O ponto de mutação. 15
ed. São Paulo : Cultrix, 1982.
______.A
teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas
vivos. São Paulo : Cultrix, 1996
CUNHA,
Sandra Baptista da Cunha, GUERRA, Antonio José Teixeira (Org.).
Questão Ambiental. Diferentes abordagens. Bertrand Brasil,
2009
LEFT,
Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade,
racionalidade, complexidade, poder.
Petrópolis, RJ. : Vozes, 2001.
______.
Enrique. Epistemologia Ambiental.
São Paulo: Cortez, 2002.
______.
Enrique. A Complexidade Ambiental.
São Paulo: Cortez, 2003.
MILLER,
G. Tyler. Ciência Ambiental.
São Paulo: Cengage
Learning, 2008.
PHILIPPI
JR., Arlindo. Interdisciplinaridade em Ciências Ambientais
/ A Philipp Jr., C. E. M. Tucci., D. J. Hogan, R. navegantes. São
Paulo: Signus Editora, 2000.
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