terça-feira, 25 de junho de 2019
Uma reflexão sobre a biofísica de alguns sistemas biológicos e suas patologias.
Os sistemas biológicos circulatório, excretor, respiratório e o processo de entropia
Como os fatores ambientais podem influenciar nas alterações genéticas

Os genes não determinam o que nos tornaremos, mas, em vez disso, são agentes dentro de um processo dinâmico. A expressão genética é regulada por forças externas. A “hereditariedade” se revela de várias formas diferentes: nós herdamos genes estáveis, mas também epigenes alteráveis; herdamos linguagens, ideias, atitudes, mas também podemos modificá-las. Herdamos um ecossistema, mas também podemos mudá-lo. Tudo nos molda e tudo pode ser moldado por nós. O que existe de genial em todos nós é a nossa habilidade intrínseca de nos aprimorarmos e de aprimorarmos o mundo em que vivemos.
SHENK (2011)
1. INTRODUÇÃO
O tema deste trabalho, como uma proposta problematizada, é muito interessante do ponto de vista acadêmico para se compreender a relação entre fatores ambientais e fatores genéticos, no seguinte questionamento: os fatores ambientais podem influenciar as alterações genéticas? A discussão genética x ambiente é um pouco antiga, mas bastante atual, e ainda não se encontraram todas as respostas para muitas perguntas.
Antes de adentrar na pesquisa e nas leituras sobre o objeto deste trabalho, outro questionamento também é importante: por exemplo, o clone do jogador Pelé produziria um jogador com as mesmas habilidades físicas e atléticas? Será que o DNA de Pelé produziria apenas a potencialidade de o clone ser um jogador maravilhoso, como foi o Pelé? E se colocarmos esse clone distante da bola, do futebol, comendo hot-dog e outras guloseimas calóricas, e sem prática de futebol? Bem, são essas e outras questões que se buscará responder neste trabalho.
2. DESENVOLVIMENTO TEÓRICO
Pesquisas apontam que tanto a genética quanto os fatores ambientais possuem cargas quase equivalentes e, dependendo da intensidade das relações, organismos humanos, por exemplo, recebem influências do meio e também o influenciam com suas modernas tecnologias.
O fato é que tanto a genética quanto o ambiente podem influenciar alterações genéticas e até causar doenças. De acordo com Beben Benyamin, do Instituto Queensland Brain (QBI), na Austrália: “Os resultados mostram que, ao invés de olharmos para nós mesmos com uma visão de genética versus ambiente, temos que nos enxergar como o produto da natureza e da criação”.
Uma pergunta ainda mais interessante e sem respostas definitivas à luz do conhecimento científico é: há algum fator ambiental, como a alimentação, que altera as condições genéticas? Essa é uma questão que foge ao escopo deste trabalho, mas que instiga o autor a melhor compreender a influência dos fatores genéticos e ambientais nas alterações fisiológicas de um ser vivo.
Isso se conecta ao texto de Benyamin, quando o autor sugere que o estudo tem “implicações importantes” para o tratamento de doenças. Ele afirma que, embora traços psiquiátricos, oftalmológicos e esqueléticos tenham maior influência genética, fatores ambientais desempenham um grande papel em valores sociais. Fatores genéticos, no entanto, influenciam, mesmo que minimamente, todos os nossos traços.
Outra questão, por exemplo, é a puberdade cada vez mais precoce em meninas. A faixa etária ideal para a chegada do primeiro ciclo menstrual é entre 10 e 14 anos, mas tem ocorrido cada vez mais cedo. Meninas desenvolvem seios e pelos pubianos antes da puberdade, até mesmo antes do primeiro ciclo menstrual.
Fatores ambientais, como a alimentação carregada de hormônios, podem ser catalisadores desse processo de alteração hormonal e, consequentemente, genética. Mudanças nos hábitos alimentares têm produzido doenças de toda ordem e magnitude — isso parece ser um fato, segundo apontam as pesquisas científicas.
Com alimentações calóricas e ricas em carboidratos, as meninas adquirem sobrepeso, o que altera a produção de estrogênio — hormônio que acelera o desenvolvimento do corpo. Assim, inicia-se um novo padrão comportamental em jovens que, cada vez mais cedo, entram no ciclo menstrual e no processo reprodutivo, o que pode afetar seu desenvolvimento ao longo da vida, especialmente na velhice, quando o ciclo se encerra — também precocemente.
Buscando respostas para o questionamento — como os fatores ambientais podem influenciar as alterações genéticas — encontra-se em De Paula (1999) algumas reflexões. A autora escreve que as influências ambientais se manifestam ou podem produzir diferenças entre indivíduos, mas isso não ocorre por novos genes, e sim pela expressão de genes já existentes. Ela cita, por exemplo, os abetos Engelmann, que nas Montanhas Rochosas atingem 25 metros de altura a 2.700 metros de altitude, mas apresentam formas anãs grotescas entre 3.000 e 3.300 metros.
De acordo com a autora, a variação ambiental não afeta a linhagem: se as sementes forem plantadas em outro ambiente, as plantas se desenvolverão conforme o novo meio, e não com base nas condições anteriores.
Importa observar que este artigo não pretende fazer afirmações absolutas, tampouco defender a tese de que a genética é determinista (inata) no desenvolvimento humano, nem que as questões ambientais são condições sine qua non para esse desenvolvimento, especialmente em crianças. Ao contrário: parte-se do pressuposto de que o ser humano é uma construção histórica que se inicia na fecundação, sendo as interações entre genética e ambiente inerentes ao processo de formação desse ser em constante aprendizado e transformação.
É necessário fugir do reducionismo do conhecimento no campo da genética e da biologia mecanicista da vida, pois, segundo Leff (2002), a descoberta das bases genéticas dos sistemas vivos levou à concepção de uma estrutura determinante dos processos evolutivos. O autor afirma:
“Os fenômenos de desenvolvimento apareciam assim fundados na reprodução de certas estruturas genéticas conformadas ao acaso, de seu desenvolvimento ontogenético, de seu processo evolutivo, da produção ao acaso de mutações genéticas e de sua seleção por assimilação ao meio ambiente. O processo teleonômico assim constituído afasta-se das concepções vitalistas e animistas, enquanto a emergência de novidades biológicas não está predeterminada nas estruturas genéticas iniciais ou um fim predestinado, pois se o DNA é o suporte molecular da emergência, é por si mesmo inerte e desprovido de propriedades teleonômicas.”
(LEFF, 2002, p. 40)
Segundo Shenk (2011), os genes são importantes na definição das características, mas, em última análise, cada ser humano é o resultado de um sistema dinâmico — produto do desenvolvimento por meio da interação gene-ambiente. Sozinhas, as diferenças genéticas não determinam se somos mais ou menos inteligentes.
Nesse mesmo sentido, Leff (2002) afirma que as descobertas da biologia molecular e da genética moderna possibilitaram novos entendimentos e combateram o individualismo metodológico surgido da noção de “adaptação do mais apto”. Assim, a seleção natural passou a ser compreendida como efeito de populações ou indivíduos definidos por suas estruturas genéticas, e não como ações isoladas sobre o meio ambiente.
Shenk (2011) também afirma que os pais não transferem apenas DNA inalterado aos filhos, mas também instruções adicionais — conhecidas como material epigenético — que ajudam a conduzir a forma como os genes serão expressos. Isso significa que os pais podem impactar o legado genético por meio da epigenética.
Segundo ele, os seres humanos são diferentes não apenas por pequenas variações genéticas, mas porque cada instante de nossas vidas influencia ativamente a expressão de nossas características genéticas. Cada gene precisa ser ativado para iniciar a construção proteica, o que ocorre a partir da interação gene-ambiente, produzindo um resultado único.
Para Shenk (2011), genes, proteínas e estímulos ambientais (como comportamentos e emoções humanas) interagem constantemente entre si. Esse processo influencia a produção de proteínas, que coordenam as funções celulares, gerando características individuais.
Francis (2015) complementa dizendo que o gene, em estado puro, é o DNA na forma da famosa dupla-hélice. Porém, em nossas células, os genes raramente estão em estado puro, pois estão envolvidos por diversas moléculas orgânicas às quais se ligam quimicamente.
Assim, Francis (2015) afirma que o ambiente externo afeta os genes ao modular sua atividade. O efeito gênico do ambiente não é direto: as influências ambientais são mediadas por alterações nas células onde os genes residem.
Além disso, diferentes tipos de célula reagem de forma diversa ao mesmo fator ambiental — seja estresse social ou carência alimentar no útero materno. Apesar de os genes em todas as células do corpo serem os mesmos, os efeitos ambientais são sempre específicos para cada tipo de célula. Por isso, os cientistas estudam populações celulares específicas — como neurônios, células do fígado, pâncreas ou outros órgãos.
CONSIDERAÇÕES
Portanto, pode-se afirmar que tanto os fatores genéticos (como a predisposição para certas doenças ou anomalias) quanto os fatores ambientais influenciam alterações genéticas, pois nossa herança não se limita apenas aos genes, mas a todo um ambiente cultural e social, que começa com os pais e inclui alimentação, hábitos e contextos.
Se algum gene desempenha papel causal em alguma anomalia ou doença, isso se dá também por meio de modificações genéticas induzidas pelo ambiente — como um gatilho a ser disparado.
REFERÊNCIAS
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Disponível em: http://hypescience.com/genetica-versus-ambiente-finalmente-uma-resposta/
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Disponível em: http://acfarmaceutica.com.br/ma-alimentacao-e-fatores-ambientais-geneticos-podem-causar-puberdade-precoce-nas-meninas/
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LEFF, Enrique. Epistemologia Ambiental. São Paulo: Cortez, 2002.
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SHENK, David. O Gênio em Todos Nós: Por que tudo que você ouviu falar de genética, talento e QI está errado. Zahar, 2011.
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FRANCIS, Richard C. Epigenética: Como a ciência está revolucionando o que sabemos sobre hereditariedade. Zahar, 2015.