As tecnologias na educação e a importância da
atuação do professor no processo de ensino e aprendizagem no ensino de biologia.
Luís
Moreira de Oliveira Filho1
Muito
se tem debatido sobre as contribuições das tecnologias na educação nas diversas
áreas do conhecimento e aqui vamos discorrer sobre os desafios do ensino de
biologia em que as redes sociais tomaram o cérebro e a quase o tempo da
juventude. O tempo de hoje não é o mais o tempo da informação, mas das ideias e
da imaginação criadora que recriam coisas e transformam outras. E as
tecnologias da informação vieram para potencializar ainda mais a imaginação
criadora humana.
Hoje o
mundo do encantamento das ideias e da criação separa as pessoas realizadoras e
de sucesso das pessoas que propagam coisas em um processo em que tudo parece verdades, perdendo-se a
capacidade de argumentação e questionamentos sobre a realidade que está aí, uma
realidade que é construída pelo homem e que, portanto, pode-se mudá-la. Como diz um pensador, Heráclito de Efeso: ninguém
entra no mesmo rio uma segunda vez, pois quando isto acontece já não se é mais
o mesmo. Assim como as águas que já serão outras. E eu complemento: as mãos que
apertamos hoje de um amigo não serão mesmas que apertaremos a manhã porque
continuamos com a renovação de nossas células e parte da poeira de nossas casas
é resto de nós mesmo, porquanto, tudo se renova e tudo se transforma e a
verdade como diz o filósofo, não está no homem, mas entre os homens.
Vivemos,
então, em um tempo em que o maior
problema é o excesso de informação, onde a verdade virou um artigo de luxo pela
incapacidade de pensar e fazer questionamentos. E por isso, nunca foi tão
importante o papel do professor nesse momento onde as redes sociais tomaram o
universo das pessoas.
E o desafio
do professor é ajudar o aluno na ressignificação da informação, na resolução de
desafios e situação de aprendizagens, sendo necessário, porquanto, de um
referencial teórico e uma proposta pedagógica na escola para casar tecnologia
com educação. Um casamento não por
modismo, mas por necessidade de repensar o processo de ensino diante das novas
possibilidades de aprendizagens oportunizadas pelas novas mídias, não
associando modernização educacional à incorporação de novas produções
tecnológicas recentes como as tecnologias da informação e comunicação como
alertam os pesquisadores Vidal e Maia (2010) no livro introdução a educação a distância
e informática básica, capítulo dois que versa sobre tecnologias na educação,
onde os autores fazem uma revisão histórica e contextualizada sobre as
tecnologias educacionais como lápis, papel, material impresso, livros,
televisores, DVD e as tecnologias e mídias mais recentes, como os audiovisuais
que podem cumprir várias funções e objetivos pedagógicos a depender do
planejamento do professor e de sua visão de mundo e de educação por um lado,
por outro, de seu preparo ou não para manusearem estas novas tecnologias no enfrentamento
do analfabetismo tecnológico e alienação.
As
observações de Vidal e Maia (2010, p. 44) para integração entre tecnologias e
currículo são importante reflexões para os professor, alertando que o currículo
é a matriz norteadora do trabalho docente e que:
o computador e a internet podem ser
empregados como excelentes recursos
pedagógicos, mas é importante não perder de vista que a tecnologia não representa, por si só, um fator
de mudança de paradigma e de qualidade na
educação. Ambos, com seu imenso potencial de tratamento, difusão e
gerenciamento de informações, podem
desempenhar um papel significativo no espaço
escolar.
Nessa
linha de pensamento, alguns questionamentos são necessários: as tecnologias
estão ainda divorciadas do processo de ensino? O cerne da questão é tecnologia
ou metodologia? Qual são as utilizações mais nobres das tecnologias na
educação? Para replicar o modelo de educação amparado nas copias e na
instrução? Quais as novas formas de ensino e de aprender possibilitadas pelas
tecnologias atuais? Qual é o papel do professor nesse processo? Qual é o papel
do aluno? Que concepção de educação pode melhor nortear um trabalho do
professor que coloque o aluno na condição de autoria? Como o professor de
biologia pode dinamizar o seu processo como as novas tecnologias? Que
ferramentas poderão ser usadas na educação e de que forma?
As leituras e reflexões
do texto – o uso inteligente do computador na educação – vão ao encontro desses
questionamento e apontam a necessidade da escola desenvolver uma abordagem
pedagógica que provoque mudanças na forma de ensinar. Nesse sentido, as
principais ideias do autor Armando Valente, para o uso inteligente do
computador na educação, indicam que: o papel do computador é de provocar
mudanças pedagógicas profundas; há necessidade de criação de ambientes de
aprendizagem que enfatize a construção do conhecimento e não a instrução; o
computador deve ser usado como máquina para ser ensinada; é preciso do
professor análise cuidadosa do que significa ensinar e aprender e compreensão
sobre mediação pedagógica no processo de ensino e situações de aprendizagem.
Importa observar que o
professor, a partir de uma consciência de referencial teórico inovador deve
criar situações para aluno manipular as informações recebidas, de modo que elas
possam ser transformadas em conhecimento através da resolução de problemas
significativos. Sob esse aspecto, o
computador oferece oportunidades para o aluno resolver problemas ou realizar
tarefas como desenhos e editoração de textos e softwares de simulação, por
exemplo: software de simulação sobre a divisão celular, onde todo o processo
possa ser revisto e testado, após leituras e estudos no laboratório de
ciências, tendo a ideia, segundo Vidal e Maia (2010), de que os alunos são os
atores centrais de aprendizagem e que eles têm contrapartida a oferecer ao
processo de ensino, construindo conhecimentos através de estratégias colaborativas
e interdisicplinares numa concepção construtivista.
Nessa linha de
pensamento, a abordagem “construcionista” – termo utilizado por Papert em A
Máquina das Crianças, repensando a educação – a interação aluno-computador
precisa ser mediada por um profissional que tenha conhecimento do significado
do processo de aprendizagem – uma abordagem sociointeracionista de Vygostsky ou
mesmo a teoria interacionista de Piajet. Por que?
Por que é necessária a
competência da mediação pedagógica e utilização das tecnologias para ajudar o
aluno na construção do conhecimento? Vidal e Maia (2010) escrevem que as contribuições
de Vygotsk estão presentes na forma bastante efetiva nas formulações e
definições das estratégias de interação, aprendizagem e desenvolvimento e na
compreensão de que a inteligência é construída a partir das relações recíprocas
do homem com o meio. Por isso, esse
profissional da educação precisa entender profundamente sobre o conteúdo para a
qualificação da mediação pedagógica e a compreensão dos potenciais das tecnologias na educação e a compreensão
das ideias construtivistas e que para Vidal e Maia (2010, p.43) surgem:
(...)
como uma vertente fértil, suscetível de reorientar a visão que temos do ensino
e da aprendizagem, rompendo barreiras disciplinares e demandando, por sua vez,
um currículo flexível, aberto ao imprevisto, ao imprevisível, ao novo; um currículo
centrado no aluno e não nas disciplinas, centrado na cognição e não na repetição,
voltado para a criatividade e para a autonomia na construção de conhecimentos
novos.
Por outro lado, quando
se pensa o computador como máquina de ensinar, tem-se o paradigma
instrucionista e o papel do professor é passível diante do computador e que
este modelo de ensino não dá conta de produzir profissionais para sobreviver em
um mundo complexo do conhecimento e da
imaginação criadora.
Dessa forma, o cerne da
questão está no desenvolvimento de uma proposta pedagógica que oportunize
situações para que o aluno possa desenvolver conhecimento, criar algo, produzir
hipertextos, hipermídia, editoração de toda e qualquer forma de conteúdo
digital e publicar, por exemplo, em blog, canais de youtube e redes sociais.
E por isso, o desafio
de construção de blogs como ferramentas de construção de conhecimento
colaborativo, o uso inteligente do
e-mail e de instrumentos mais atuais como tablets e smartphones que
potencializam a virtualidade e a portabilidade, revisitando conceitos de
presencialidade, distância na interação professor-aluno e alunos-alunos, pais,
escolas e escolas-escolas e o próprio universo, requer intervenções do professor.
Nessa perspectiva, o
papel do professor é ser mediador, provocar nos alunos as perguntas fundamentais
sobre o objeto a ser ensinado, lançando desafios e fornecendo pistas para que
os alunos avancem na resolução das atividades propostas em visão sócio-interacionista
e numa pedagogia dialógica proposta por Paulo Freire. E como seria essa visão sócio-interacionista
com as novas tecnologias da informação e comunicação?
Sobre essa perspectiva
sócio-interacionista com as novas tecnologias no processo de ensino, a
qualidade da intervenção do professor é importantíssima, por exemplo, quando o
aluno é desafiado a produzir um vídeo a partir de uma aula de campo sobre o
bioma caatinga. Essa mediação consiste, por exemplo, verificar e detectar se o
aluno está fazendo o que sabe, o que pode se está aquém de seu potencial e o
quanto poderia avançar. Os momentos de síntese avaliativos podem ser feitos por
meio de chat, e-mail, videoconferência, fórum de discussão, blog, etc. O que
fato é que professores têm mais ferramentas para acompanhar os avanços dos
alunos na resolução das atividades em situações de aprendizagem.
Nessa perspectiva
vygotskiana, o estudante tem a capacidade de ir além das estruturas e do nível
de desenvolvimento estabelecidos por Piaget, se o professor interferir, ajudar,
em vez de deixá-lo trabalhar sozinho e
só ficar acompanhando o que ela sabe. O envio de um tutorial, um momento de
síntese, o envio de dicas “pistas” são importantíssimas, como por exemplo, na
elaboração de um blog para quem tem pouca familiaridade com essa ferramenta de
ensino e aprendizagem, atuando, portanto, dentro da zona de desenvolvimento
proximal do aluno para atingir o nível de desenvolvimento potencial.
Para Vygotsky o
conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP) consiste na qualidade da
mediação pedagógica, posto que é preciso considerar o que o aluno tem
capacidade de resolver problemas, desempenhar tarefas, elaborar representações
mentais e construir conceitos com a ajuda de seus professores.
Para Vygotsky (1994), a
(ZDP) representa a distância entre o que a criança já sabe e consegue
efetivamente fazer ou resolver por ele mesmo (nível de desenvolvimento real) e
o que ela ainda não sabe, mas pode vir a saber, com a mediação de outras
pessoas (nível de desenvolvimento potencial).
E no processo de
mediação do professor para a construção de blog de biologia, por exemplo, o
aluno vai fazendo o que sabe e vai sendo desafiado a avançar no que não sabe
até atingir o nível de desenvolvimento real. Dessa forma, os objetivos
propostos pelo professor na resolução da atividade proposta vão se
materializando na medida em que interação aluno-aluno, professor-aluno e outras
pessoas mais experientes no uso dessas ferramentas vai se aprofundando e
atingindo o nível de desenvolvimento potencial de cada aluno.
Para tanto, os
professores criarão desafios, abordagens para além desse nível e a utilização
de diversos meios e instrumentos de apoio e suporte como as tecnologias
digitais, que podem intermediar o ensino associado à noção de ZDP. Isso é
enfatizado por Vygotsky, quando ele fala que a ZDP pode proporcionar novas
maneiras da criança “menos competente”, enfrentar desafios e atividades, graças
à ajuda oferecida pelo seu professor ou por pessoas mais experientes (seus colegas)
ao longo da interação porque indivíduos internalizam conhecimentos de pessoas
mais instruídas.
Nessa perspectiva, o
psicólogo bielo-russo, coloca que a ZDP é um espaço sempre em processo de
mudança com a própria interação, que pressupõe um relacionamento constante
entre alunos e professores e contínuo
entre o que os alunos sabem previamente e aquilo que têm de aprender, segundo o
planejamento do professor e que, portanto, vai ao encontro da necessidade de
compreensão da qualificação da mediação para utilização das novas tecnologias
da informação e comunicação na educação.
Em síntese, Vygotsky
(1994) identifica dois níveis de desenvolvimento: um se refere às conquistas já
efetivas, que ele chama de nível de desenvolvimento real ou afetivo, e outro, o
nível de desenvolvimento potencial, que se relaciona às capacidades em vias de
serem construídas. E qualidade da mediação pedagógica do professor, "entregando
pistas", por exemplo, para a produção de audiovisuais, hipertextos, blogs e desenvolvendo a "pedagogia
problematizadora" de Paulo Freire, é condição essencial para o aprendizado
dos alunos.
Além do mais, o uso de tecnologias implica nova proposta
pedagógica inovadora, onde o aluno é o construtor do conhecimento. E o emprego do computador e as ferramentas da
internet podem contribuir para a renovação do processo de aprendizagem e deve
ser para o professor, um mecanismo problematizador da relação professor-aluno-tecnologias,
ou seja, na construção colaborativa de aprendizagem.
Na concepção
construtivista, o professor ajuda o aluno a agir, operar, criar, construir a
partir de sua realidade e maturidade mental. E no ensino tradicional o papel do
professor consiste em fazer a criança repetir, recitar, aprender o que
já está pronto onde as tecnologias, sejam elas antigas como os livros, ou as
novas com as mídias digitais apenas reverberarão as concepções de educação que
estão postas.
Na concepção de educação crítica, o papel do
professor como a utilização das tecnologias (livros e as ferramentas da
internet, por exemplo), é desenvolver as potencialidades dos alunos, preparando-os
para o mundo do trabalho e para o e
exercício da cidadania, contribuindo ainda para formação integral.
Nesse novo fazer
pedagógico mediado pelas tecnologias, embasado pelas teorias de Vygotsky,
Piaget, Paulo Freire e outros autores
construtivistas, o erro é epistêmico porque os estudantes, por exemplo,
na construção de hipermídias, hipertextos, objetos de aprendizagem, editoração
de textos, mídias, audiovisuais, o aluno,
mediado e desafiado pelo professor, reformula suas ideias até atingir o
desenvolvimento potencial. E a avaliação neste contexto é constante,
diagnóstica, qualitativa e individual até a realização do produto final
(aprendizagem).
Portanto, quando se
pensa tecnologias na educação, a questão vai muito além da tecnologia, o que
está em discussão é a proposta pedagógica e metodologias de ensino que
provoquem no aluno as perguntas fundamentais sobre o objeto ensinado. Como novas
formas de aprender, blogs e jogos de
simulação, por exemplo, é preciso descobrir novas formas de ensinar. E qual a
melhor forma de aprender sobre os componentes de uma célula eucariota, não
seria a construção de uma célula a partir de componentes do “lixo” produzido
nas casas dos alunos?
E por fim, se é
consenso entre os professores que o maior desafio hoje é conquistar atenção dos
alunos para o ensino de um lado, de outro, também é consenso que é preciso
colocar os alunos diretamente em vivências permite uma aprendizagem mais afetiva, a começar pela
construção de uma célula e seus componentes, utilizando as tecnologias
disponíveis com o apoio do professor. Alunos e professores precisam e devem
construir os seus materiais de ensino e aprendizagem e as tecnologias
apresentam diversas possibilidade. A construção de audiovisual a partir uma aula no
laboratório de ciências, ou mesmo o contato diretamente com a natureza, laboratório
natural de aprendizagem, onde os alunos aprendem conhecimento a partir de
problemas globais e neles desenvolve a capacidade de inserir os conhecimentos
locais.
REFERÊNCIAS
OLIVEIRA,
Marta Kohl de. Vygotsky – Aprendizado e Desenvolvimento: um
processo sócio-histórico. São Paulo: Spcione, 1993.
PAPERTM,
Seymour. A Máquina das Crianças: repensando a escola na era da informática.
Trad. Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
REGO,
Teresa Cristina. Vygotsky: um perspectiva histórico-cultural da educação.
6ª ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
VIDAL, Heloisa
Maia; MAIA, José Everardo Bessa Maia. Introdução a Educação a Distância e Informática
Básica. 2010. Editora RDS.
VYGOTSKY,
L. S. A Formação Social da Mente. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes,
1994.
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