Módulo 3 - Sistema Tributário Injusto
Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social conclui que tributação
perpetua desigualdades
Marcelo Maiolino Martins*
O
sistema tributário brasileiro é injusto e contribui para a perpetuação e o
aprofundamento das desigualdades sociais, constata o estudo "Indicadores
do Sistema Tributário Nacional", elaborado pelo Observatório da Equidade,
órgão do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CEDES). O
documento recebeu parecer favorável
durante a 30ª Reunião Plenária do CDES, realizada em
4
de junho, em Brasília. De acordo com o Observatório, a injustiça tributária
materializa-se, principalmente, no fato de que quem ganha menos (trabalhadores
assalariados e pobres) paga mais, favorecendo proprietários e aplicadores, que,
proporcionalmente, recolhem menos impostos. Essa realidade, que se manifesta
também territorialmente, é decorrência de cinco características que se interrelacionam:
1. O
sistema tributário é
regressivo e a
carga é mal
distribuída A
distribuição da carga tributária desrespeita o princípio da equidade. Em
decorrência do elevado peso dos tributos sobre bens e serviços na arrecadação,
pessoas que ganhavam até dois salários mínimos em 2004 gastaram 48,8%
de sua renda no pagamento de tributos.
Já o peso da carga tributária para as famílias com renda superior a 30 salários
mínimos correspondia a 26,3%.
2. O
retorno social é
baixo em relação
à carga tributária Dos 33,8% do PIB arrecadados em 2005,
apenas 9,5% do produto retornaram à sociedade na forma de investimentos
públicos em educação, saúde, segurança pública, habitação e saneamento.
3. A estrutura tributária inibe as atividades
produtivas e a geração de emprego
Há
grande número de tributos, tributação em cascata, tributação da folha de
pagamentos, excesso de burocracia, deficiências dos mecanismos de
desoneração das exportações e dos investimentos. Tudo isso desestimula
as atividades produtivas e a geração de empregos.
4. O pacto federativo é inadequado em relação às
suas competências tributárias responsabilidades e territorialidades
A distribuição de recursos no âmbito da federação não se orienta por
critérios de equidade. O desenho das transferências entre esferas de governo,
ao invés de perseguir a equalização entre os montantes de recursos à
disposição das unidades locais, tende a favorecer a
desigualdade. Em 2007, o maior orçamento
per capita municipal
do país superou
em 41 vezes
o menor orçamento
por
habitante.
Descontadas as transferências intergovernamentais, essa proporção cai para 10.
5.
Não há cidadania tributária Não se
verificam as condições adequadas para o exercício da cidadania tributária. Como
os tributos indiretos são menos visíveis que as
incidências sobre a renda e a
propriedade, é disseminada na sociedade brasileira a crença de
que a população de baixa renda
não paga impostos. Em decorrência, as políticas
públicas orientadas para a redução das desigualdades e dos índices de
pobreza são vistas como benesses até mesmo pela população carente.
BRASIL - Distribuição da carga
tributária segundo faixa de salário
mínimo
Renda mensal familiar
|
Carga tributária bruta
2004
|
Carga tributária bruta
2008
|
Dias de trabalho
destinados ao pagamento de tributos
|
Até 2 salários- mínimos
|
48,8
|
53,9
|
197
|
De 2 a 3
s.m.
|
38,0
|
41,9
|
153
|
De 3 a 5
s.m.
|
33,9
|
37,4
|
137
|
De 5 a 6
s.m.
|
32,0
|
35,3
|
129
|
De 6 a 8
s.m.
|
31,7
|
35,0
|
128
|
De 8 a 10
s.m.
|
31,7
|
35,0
|
128
|
De 10 a 15
s.m.
|
30,5
|
33,7
|
123
|
De 15 a 20
s.m.
|
28,4
|
31,3
|
115
|
De 20 a 30 s.m.
|
28,7
|
31,7
|
116
|
Mais de 30 s.m.
|
26,3
|
29,0
|
106
|
Média
|
32,8
|
36,2
|
132
|
Esse
cenário, de acordo com o documento, "denuncia de forma contundente as
consequências e a natureza estrutural das iniquidades no Brasil. Isto porque o
sistema tributário se constitui em instrumento de reprodução de justiça ou
injustiça na forma de apropriar e (re)distribuir a riqueza nacional". De
acordo com os autores do texto, "a reprodução
estrutural da fragilidade social é demonstrada pela diferença entre o que pagam
de tributos os que ganham menos e os que ganham mais, entre o que é arrecadado
e o que é investido em políticas públicas para a população em maior grau de
fragilidade, assim como na falta de visibilidade dos impostos embutidos em
produtos e serviços que a maioria da população paga".
*Transcrito,
com adaptações, da Revista "Desafios do Desenvolvimento", editada
pelo IPEA - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, edição de julho de
2009, páginas 60-65.
Para baixar os módulos do curso e também textos complementares acesse a biblioteca do curso em Educação Fiscal
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A carga tributária do Sistema Tributario Nacional, realmente atua de forma desleal, realmente a incidência de impostos recai com maiores consequencias para os menos favorecidos, visto que tributos como ICMS, ISS etc. possuem aliquotas iguais para todas as classes sociais. Este é o chamado sistema REGRESSIVO de Tributação, que iguala os desiguais em relação a cobrança de impostos.
ResponderExcluirEsse texto nos mostra quão desigual são essas cobranças, sempre os mais pobres são os que acabam sofrendo com essa falta de consciência dos governantes.
ResponderExcluirO texto nos mostra de forma evidente a desigualdade na aplicação do sistema tributário nacional. De maneira regressiva, este toma os desiguais de forma igual, de maneira que, os pobres e menos desfavorecidos acabam sofrendo mais.
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