Luis Moreira de Oliveira Filho.
Nordeste é uma ficção
Nordeste nunca houve
Não eu não sou do lugar
Dos esquecidos
Não sou da nação
Dos condenados
Não sou do sertão
Dos ofendidos
Você sabe bem
Conheço o meu lugar
Belchior.
Trajetória de vida
Fui, pelos sonhos e vivências de meus pais e das minhas lutas, o primeiro membro da família formado e professor. Lembro-me, já graduado no final dos anos 80, um misto de realização por um lado, por outro, os desafios que teria que enfrentar pela vida, dignificando toda a luta dos meus pais. Por isso, este texto inicial está permeado por sentimentos diversos, nostalgia, saudades, dores de quem acabou de perder sua mãe querida, mas também de afetos, gratidão, sonhos e vivências que serão traduzidos como trajetória de vida e memórias ao encontro do objeto de estudo.
Importa observar aos leitores que o presente texto não se amarra em uma narrativa linear e fria das letras, tendo em vista que as lembranças e memórias vão se conectando entre fatos e eventos em momentos históricos diferentes nessa trajetória de vida, do Jardim de Infância aos estudos acadêmicos mais elaborados da pesquisa científica. Como ser aprendiz histórico, sempre em construção e reconstrução, moldado a cada leitura realizada, reporto-me aos primeiros rudimentos do processo de domínio do vernáculo, pelo qual busco, agora argumentar, a partir dos fios deste tecido acadêmico, um pouco da minha história e memória de vida.
Nessa perspectiva, Toledo e Barrera-Bassols (2016) discorrem que a memória é um fabuloso instrumento da espécie humana que possibilita mergulhar nas lembranças e recordações que sustentam a relação entre ser humano e natureza, em constante transformação no percurso histórico de sua vida. Além do mais, conforme ressaltam Derossi e Ferenc (2020) as trajetórias de histórias de vida buscam clarear os processos de significação na vida dos sujeitos pesquisadores que narram sobre si, bem como o filtro do que deve ser rememorado e reflexões teóricas e empíricas, sua existência e sua memória.